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Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet

Por Gilson Salomão Pessôa


Pôster do filme Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet

O cineasta Tim Burton tem uma elegância ímpar ao lidar com o sombrio e o mórbido. Sua câmera parece valsar ao som da “Danse Macabre”, do compositor francês Camille Saint-Saëns. O apreço pelo escritor Edgar Allan Poe teve grande influência em seu estilo e esta belíssima película comprova essas afirmações.


A narrativa gira em torno de Benjamin Barker, um barbeiro que foi injustamente afastado de sua filha e esposa pelo juiz que a desejava. Exilado, ele retorna anos depois adotando o pseudônimo de Sweeney Todd, onde planeja sua vingança enquanto mata seus clientes, fornecendo recheio para as tortas da amiga cozinheira Sra. Lovett.


O filme é um musical, onde as canções fluem enriquecendo a narrativa, dando a entonação necessária e reforçando a dramaticidade das cenas. As letras são belíssimas e pincelam de forma poética o caráter emocional dos personagens. Como exemplo destaco a canção que o protagonista canta com o juiz enquanto faz a barba do mesmo.


Interessante notar o impacto dos atos do juiz nesta família: Todd, que era amável e educado transformou-se em alguém consumido pelo prazer da vingança e das lembranças, sua mulher tomou arsênico enquanto sua filha tornou-se uma prisioneira da casa onde vive constantemente vigiada e assediada por seu tutor. Anthony, o rapaz que realmente a ama, pode ser visto como uma “nova versão” do outrora doce barbeiro, simbolizando que em algum lugar a trágica história de amor interrompida poderá ser recomeçada e revivida.


O diretor aproveita a trama ambientada na Inglaterra vitoriana para traçar um painel sociológico e comportamental do período em questão, onde a miséria gerava atitudes desesperadas, como usar gatos ou carniça para rechear tortas ou misturar urina com tinta para vender como tônico capilar. Tim Burton ainda tece um comentário ácido sobre a classe alta da época, representada pelo corpo jurídico e pelo clero.


Os assassinatos cometidos pelo barbeiro são um reflexo de sua repugnância pela sociedade, marcada pela discrepância entre as classes sociais. As tortas de carne humana revelam nossa própria condição autodestrutiva e autofágica.


A projeção mostra como o impulso por vingança pode cegar uma pessoa a ponto de controlar a mesma por completo, impedindo que ele aproveite os pequenos prazeres da vida e direcionando seu infortúnio para que o mesmo macule todos aqueles que o rodeiam.


Todd é uma sombra de ser humano que não sente prazer em coisa alguma, nem em matar. O amor platônico que a cozinheira sente pelo barbeiro ressalta esta disparidade. Ela quer viver na luz enquanto ele está aprisionado no claustro escuro da angústia e do ressentimento.


No que tange ao elenco, impossível não destacar a excelente performance de Johnny Depp, interpretando um protagonista cuja essência foi corroída pela tragicidade e que só encontra sentido para a própria existência através da libertação de sua raiva. Helena Bonham Carter está igualmente fantástica como a quituteira que encontra no retorno de Benjamin uma alternativa para buscar a felicidade amorosa e monetária. Além disso, sua relação materna com o jovem abandonado é um dos pontos altos da projeção.


Os mais observadores poderão antever a grande revelação na última cena do filme, mostrando que o desejo por vingança pode levar a resultados inesperados.



Cena do filme Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet

Imagem: https://www.oficialhostgeek.com.br





 

Autoria


Gilson Salomão Pessôa é jornalista formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora, com Pós Graduação em Globalização, Mídia e Cidadania pela mesma faculdade. Publicou os livros "Histórias de Titãs Quebradiços" e "Um Suspiro Resgatado".

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