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Memória, encanto, emoção e surpresas!

Por Gisele Silva



Fiz um curso há algum tempo e no primeiro dia de aula tive a oportunidade de assistir uma palestra/conversa com uma professora especialista em Literatura. Ela iniciou a conversa nos fazendo uma pergunta: “O que é para vocês Literatura”?


A partir desse questionamento ela queria que nós nos reportássemos a nossa infância, às nossas memórias literárias. Sensações, ambientes, cores, odores. Tudo enfim que nos trouxesse emoção, impacto.


Entendi que nosso relacionamento com a Literatura vai além dos sentidos expressos nas palavras impressas nos livros, é também uma forma de nos compreendermos e compreender o mundo a nossa volta.


Para responder à pergunta realizada pela professora, me peguei pensando se o que eu lia na infância e que me causava impacto seria realmente Literatura. Então resolvi que meu primeiro encontro com a Literatura formal (em minha concepção) foi na 5.ª série, quando a professora de Língua portuguesa solicitou a leitura de “Vidas Secas” de Graciliano Ramos.


Pareceu-me pertinente esse registro, pois tal livro realmente marca a vida de quem o lê, por expressar a luta e as mazelas do nosso povo nordestino tão sofrido, e por ter eu, um pai nordestino que dava muito valor à leitura, ao estudo e toda forma de cultura que pudesse ampliar o nosso (meu e dele) conhecimento. Aproximar-se da cultura hegemônica preponderante em nosso país era como deter de alguma forma um poder absoluto, aproximando-nos de certa forma dos personagens do livro — uma luta para sobreviver da melhor forma possível.


O questionamento da professora era para escrevermos sobre o assunto, o que me instigou a ir tecendo meu texto aliando reflexões e considerações a respeito do tema, entendendo que a estética, a beleza pode estar em qualquer obra o que nos causa impacto é justamente o que mexe com nossos sentidos ou como nos diz Larossa, “experiência é: o que nos acontece”.


Além disso, a proposta da escrita desse texto deveria ser a partir da escolha de um clássico da literatura infantil. Senti-me em um beco. Não veio a minha memória nenhum clássico infantil que houvesse me marcado a ponto de escrever um texto!


Sempre li para minha filha e para os meus alunos. Ocorreu-me então a ideia de eleger algum clássico ligado a uma memória boa, que me remetesse a algo mágico que acredito ser o que acontece quando lemos para alguém.


Foi, portanto, com essa ideia que resolvi escolher a história “Os três porquinhos”, um livro que eu lia repetidamente para minha filha quando ela era pequena. Um livro de 8ª edição da editora Melhoramentos do ano de 1984! Livro este que eu havia pegado emprestado na escola em que trabalhei. Ela pedia e eu tinha que lê-lo diariamente!


Eu imitava as vozes dos porquinhos e do lobo. No fim a diretora da escola disse que eu poderia ficar com o livro. Uma boa lembrança que aqueceu meu coração! Até hoje ela guarda esse livro a sete chaves, não dá e nem empresta!


Pensando nessa experiência com minha filha e para ilustrar meu texto reiterando a importância de se ler os clássicos desde cedo para as crianças, resolvi perguntar-lhe qual era o seu conto clássico preferido. Que surpresa quando ouvi a resposta! Respondeu sem pestanejar: “A Bela e a Fera!”.

Novamente minha cabeça deu um nó! Não era seu preferido Os três porquinhos, a história tantas vezes contada? Era o livro com o qual ela dormia e acordava e guarda até hoje? Não lhe trazia encantamento, divertimento, ouvir as vozes diferentes que eu fazia enquanto contava a história? Sim, trazia, mas seu preferido era (digo é) outro.


Refletindo sobre essa experiência conclui que Dandara elegeu como seu conto clássico preferido aquele que leu sozinha pela primeira vez. O que a fez descobrir-se leitora, o que a fez encantar-se “sozinha”, viajar, identificar-se com a personagem, ou simplesmente descobrir a mágica sem explicação que se faz quando lemos.


Minha filha descobriu nesse conto a delícia de tornar-se leitora, poder reviver e retomar o passado de várias formas diferentes, quantas vezes desejasse. Porém, para mim, foi mais além do que isso: permitiu que eu refletisse sobre como é importante não apenas lermos os clássicos para os pequenos desde cedo, mas quaisquer categorias de texto, que ao pensarmos neles, os lermos novamente ou para alguém, consigamos apenas sentir emoção e prazer.


Simplesmente ler e deixar que cada um deles faça sua própria escolha e se delicie com ela!





 

Autoria



Gisele Silva é Pedagoga que atua com professoras e alunos de uma Escola Especial para Autistas em São João de Meriti. Professora dos anos iniciais na cidade do Rio de Janeiro. Pós Graduada em Alfabetização das Crianças das Classes Populares pela UFF. Faz parte do Coletivo “Encantadores de Letras”. Autora do Projeto “Caixa de Encantamentos” que incentiva a leitura, estimulando a percepção, a imaginação e o fazer criativo. Iniciou o caminho como escritora em 2019 publicando 3 livros de literatura infantil e participando com dois textos na coletânea "Vozes Negras: tecendo a resistência".


Redes sociais:

Instagram: @giselesilvapegagoga

Facebook: Gisele Silva Pedagoga



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