Por Gisele Silva
Para iniciar esse texto, recorro às palavras de Eduardo Galeano: “A memória guardará o que valer a pena. A memória sabe de mim mais que eu; e ela não perde o que merece ser salvo”. Destaco a partir da afirmação acima o que merece ser, não apenas salvo, mas, sobretudo, compartilhado.
Sempre fui uma leitora voraz. Participava do antigo Círculo do Livro, comprando livros e os trocando com as amigas e em uma banca na feira livre próxima à minha casa. Em uma dessas minhas visitas à feira me interessei por uma revista em especial: a Revista Pais e Filhos. Na referida revista havia uma coluna intitulada “Criança diz cada coisa”, escrita por Pedro Bloch. Achei extremamente interessante o conteúdo do texto: perguntas que as crianças faziam e suas respostas que traziam conclusões muito criativas aos problemas e dificuldades do mundo adulto.
Após cada leitura ficava me perguntando que espécie de lógica era aquela, tão inocente, que deveria levar qualquer adulto, a repensar determinadas atitudes frente à vida. Lógica que muitas das vezes não conseguimos entender e temos receio de nos aproximar. O tempo passou e resolvi ingressar no Curso Normal, visando ter uma profissão que me proporcionasse à oportunidade de estar em contato constante com crianças. De preferência as pequenas, em início de desenvolvimento e ao me formar tornei-me professora de educação infantil em uma escola da rede privada.
Muitos anos se passaram, me formei como Pedagoga e prestei concurso para a rede pública de São João de Meriti, onde até hoje atuo como Orientadora Pedagógica.
Nunca abandonei o sonho de regressar à sala de aula, ele continuava vivo em mim. Algo que aconteceu em 2011. Um desejo de “estar de volta ao aconchego” parafraseando a música composta por Nando Cordel e Dominguinhos.
Ser professora alfabetizadora me traz diariamente, o espírito dialógico freiriano, que nos propõe tomar a palavra e escrever sobre essa palavra. Uma palavra que não é só minha, também dos meus alunos, cada vez que encontro a possibilidade de compartilhar as experiências vividas em meu cotidiano com eles, nos diversos encontros e projetos que realizamos.
Desde então tenho vivido momentos mágicos, emocionantes, de compartilhamento de saberes fazeres, ideias, práticas, novas leituras de mim e de tantos outros que me atravessam ao ouvir e relatar histórias e experiências. A cada vez que (re)escrevo, (re)conto minha história, como afirma Benjamim (1994), “entende-se que a vida não pode ser separada do modo pelo qual podemos dar conta de nós mesmos: narrar nossas histórias é, portanto, um modo de dar a nós mesmos uma identidade”. E assim, reinventar-se permanentemente.
Autoria
Gisele Silva é Pedagoga que atua com professoras e alunos de uma Escola Especial para Autistas em São João de Meriti. Professora dos anos iniciais na cidade do Rio de Janeiro. Pós Graduada em Alfabetização das Crianças das Classes Populares pela UFF. Faz parte do Coletivo “Encantadores de Letras”. Autora do Projeto “Caixa de Encantamentos” que incentiva a leitura, estimulando a percepção, a imaginação e o fazer criativo. Iniciou o caminho como escritora em 2019 publicando 3 livros de literatura infantil e participando com dois textos na coletânea "Vozes Negras: tecendo a resistência".
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