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Causa perdida

Por Paulo Pazz



Santo Antônio, vá chamar São João para decidirmos a situação daquele casal, Castro e Virgínia.

Mas, São Pedro, já não ficou decidido que nós não iríamos mais interferir? Que eu me lembre, é para deixarmos as coisas rolarem. Aquele Castro não se ajuda de jeito algum. Nem ele, nem Virgínia.

Santo Antônio, Santo Antônio, já lhe disse mil vezes que não é assim que funciona. Não podemos desistir jamais... já imaginou se Jesus desistisse de nós toda vez que se decepcionasse conosco?

Credo em cruz! Cebesta! Ave Maria! – praguejou o santo.

Alguém me chamou? os dois ouviram uma voz doce, saída da nuvem à esquerda e um andar acima.

Não, não, Minha Senhora! Força de expressão! Santo Antônio falou, ajeitando a auréola enquanto cruzava o salão.


Meia hora depois, os três conversavam acaloradamente a respeito do jovem Castro, ainda solteiro, ainda sem par.


São Pedro, eu estou desanimado e chateado por esta perda de tempo. Esta causa é perdida... Tantos casados e enfermos para eu cuidar, além de ter de proteger as gargantas dos cantores e leiloeiros das Festas Joaninas, e nós aqui!

Calma, São João! Lembre-se que não podemos abandonar ninguém. Afinal...

Santo Antônio interrompeu o discurso longo que certamente viria da boca de São Pedro.

São João, que história é essa de Festa Joanina? Você está careca de saber que já não se usa mais essa denominação. É Festas Juninas, certo? Egocentrismo é pecado, viu?

Olha aqui, Santo Antônio!...

São Pedro bate com extrema força no tampo da mesa ovalada. O som ecoou pelo imenso salão. Elevou a voz e chegou bem perto dos outros dois santos.

Vocês dois, tomem jeito e acalmem-se, pelo amor de Deus! Ouçam bem, já está decidido que nós vamos mexer os pauzinhos, sim. Até porque Nosso Senhor está incomodado pelo tanto que o Castro tem dependurado você, Santo Antônio, de cabeça para baixo.

Ok, ok! Para que dia vamos marcar a cerimônia? Penso que o ideal será o dia 13 de junho, dia dedicado a mim, o santo casamenteiro!

Parô, parô e parô! Você acha que está merecendo esse título? Falhou e continua falhando feio com esse casal. Vamos marcar para o dia 24.

São João, bebe um pouco de água benta para se acalmar! De água você entende melhor que todos. Santo Antônio disse com ironia.


São João, puxou ar e levou o dedo na direção de Santo Antônio. Novamente São Pedro atalhou.

Aiaiai, lá vamos nós outra vez! Vamos parar de brigas e resolver o caso, senão chamo Jesus aqui! Não é possível que Ele vai ter de voltar na terra por questão tão simples.

Você está certo! disseram os dois em uníssono.

São Pedro pegou a agenda e a caneta. Os outros se debruçaram sobre os ombros de São Pedro e um em cada ouvido falava repetidamente:

Dia 13

Dia 24

Dia 13

Dia 24

13

24

Parem, diabos... eita... Parem abençoados! Vamos fazer assim: Castro e Virgìnia ficam noivos dia 13, fazem a despedida de solteiros dia 24 e casam-se no dia 29. Pronto! Decidido, né?

Nãaaaaaaaaaaaaaao! Novo uníssono.


Que barulheira é essa aqui? Jesus entrou aos berros Novamente a confusão por causa desse tal de Castro? Afinal, quem é Castro? O que ele tem de tão marcante que envolve três eternos santos e nada se resolve?

Os três olharam-se, olharam para Jesus e soltaram risinhos que se converteram em gargalhadas.

Santo Antônio pegou uma foto e mostrou para Jesus. O olhar de espanto do Filho de Deus foi tão grande que Santo Antônio se arrependeu de mostrar a fotografia de forma tão desavisada.

Disfarçando, Jesus pediu para ver quem é Virgínia. São João ligou a câmera celestial bem na hora que Virgínia passeava no jardim. Novo espanto... dessa vez gigantesco.

Essa causa é perdida. Nem eu sei como resolver. Se virem vocês! E Jesus se foi pelo corredor comprido que liga o salão à igreja.

***


Castro e Virgínia viveram castos e virgens pelo resto de suas vidas!






 


Paulo Pazz é licenciado em Letras pela UFG-CAC, Professor pelo Estado de Goiás e Membro da ACL - Academia Catalana de Letras. Também é revisor e colunista da Revista Portalvip (com circulação em toda região sudeste de Goiás), integrante da Comissão julgadora das Olimpíadas da Língua Portuguesa desde 2014, ator integrante da Cia Express’arte e instrutor de “Contação de Causos" pelo Centro Cultural Labibe Faiad (Catalão/GO). Participou da mesa redonda O fazer Poético e do Sarau de Poesias (ambos do I FLICAT UFG) e do Festival Literário do Cerrado – FLICA (Ipameri-GO), edições I, III e IV. Mantém a Página literária do blog Recanto das Letras, do site da UOL, desde Outubro de 2008. Recebeu oito premiações em concursos literários mantidos pela UFG (a primeira em 1993), cinco premiações pelo SESI-Arte e Criatividade (nas categorias Conto e Poesia) e o Prêmio “Trabalhador da Indústria” pelo SESI. Participou de duas antologias poéticas publicadas pelo SESI – Serviço Social da Indústria e publicou os livros "Palavra Lavrada", "Transfiguração" e "Manual do Desesquecimento".


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