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A menina e sua caixinha de sonhos

Por Paulo Pazz



Ela andava sempre com canetinhas coloridas nas mãos. Sempre renovando-as, sempre adquirindo outras e outras e outras.


Não podia ver paredes que logo sacava de um estojo aquele monte de canetinhas de todas as cores e saía a desenhar portas e janelas.


Não importava o tamanho das portas e janelas, desde que fossem desenhos de portas e janelas sempre abertas.


Nada dizia a ninguém.


Aflita, rabiscava com tamanha presteza que se tornou expert na arte de desenhar portas e janelas sempre abertas. Mal a viam e já estava indo embora, deixando pelos muros e paredes uma infinidade de desenhos que, com o passar do tempo, iam ficando mais e mais perfeitos.


Por fim, desenhava sem nem olhar para as paredes e muros, como as artesãs fazem crochê enquanto conversam entre si, sem errarem um ponto sequer. O detalhe é que nunca seus desenhos se repetiam: cada porta e janela desenhada tinha uma particularidade única, como uma digital.


Um dia, consegui trocar algumas palavras com ela e, em determinada altura do nosso diálogo, perguntei-lhe por que tinha essa predileção por desenhar portas e janelas sempre abertas. Ela me olhou com um olhar turvo e, ao mesmo tempo, assustado e respondeu:


Não tenho predileção por portas e janelas sempre abertas. A verdade é que não gosto de muros e paredes sempre fechados. Amo passagens e travessias.


Sacou das canetinhas e passou para o outro lado da rua, em direção a um muro virgem de portas e janelas sempre abertas.



 

Autoria


Paulo Pazz é licenciado em Letras pela UFG-CAC, Professor pelo Estado de Goiás e Membro da ACL - Academia Catalana de Letras. Também é revisor e colunista da Revista Portalvip (com circulação em toda região sudeste de Goiás), integrante da Comissão julgadora das Olimpíadas da Língua Portuguesa desde 2014, ator integrante da Cia Express’arte e instrutor de “Contação de Causos" pelo Centro Cultural Labibe Faiad (Catalão/GO). Participou da mesa redonda O fazer Poético e do Sarau de Poesias (ambos do I FLICAT UFG) e do Festival Literário do Cerrado – FLICA (Ipameri-GO), edições I, III e IV. Mantém a Página literária do blog Recanto das Letras, do site da UOL, desde Outubro de 2008. Recebeu oito premiações em concursos literários mantidos pela UFG (a primeira em 1993), cinco premiações pelo SESI-Arte e Criatividade (nas categorias Conto e Poesia) e o Prêmio “Trabalhador da Indústria” pelo SESI. Participou de duas antologias poéticas publicadas pelo SESI – Serviço Social da Indústria e publicou os livros "Palavra Lavrada", "Transfiguração" e "Manual do Desesquecimento".



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