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Você não é todo mundo!

Por Fabiana Esteves




Esta semana recebemos o livro novo de um autor do Coletivo que faço parte, e que escreve terror para crianças. Pode parecer estranho, mas é esse o trabalho dele. Fiquei surpresa quando vi, na contracapa, uma informação muito importante mas que nunca tinha visto em livro nenhum: a classificação indicativa. No caso do livro, 10 anos. Conversei com o autor, que relatou que foi por iniciativa própria, em acordo com a editora, a fim de resguardar a obra de uma ala mais conservadora da sociedade. Achei louvável. Isso torna mais fácil a escolha dos livros para os pequenos? Talvez sim, talvez não. Mas já notei que hoje em dia muitos pais não se preocupam muito se o conteúdo é ou não adequado aos seus filhos.


Certa vez cheguei em casa e vi meu marido e minha filha assistindo a uma série e fiquei abismada com o conteúdo. Perguntei: "Essa série é para que idade?" Ninguém me respondeu. Fui pesquisar e era 18 anos. "Mas não tem nada demais!" Resolvi perguntar na rede social e os amigos e conhecidos  estavam assistindo com seus filhos, e repetiram a mesma frase que ouvi em casa: "Não tem nada demais!" O nada demais era uma violência extrema que feria meus olhos de adulta, que dirá de uma criança! Percebi que eu era a única louca que não deixava as filhas assistirem aquilo. Laís ficou emburrada toda vida. "Como assim eu não posso ver? Mãe, todo mundo assiste essa série!" Bom, repeti a célebre frase que toda mãe tem na ponta da língua: "Você não é todo mundo!" e encerrei o papo. Não é não.


Fiquei feliz com a classificação no livro justamente porque vejo que estamos começando a nos preocupar com isso. Se os pais resolvem não respeitar, tudo bem, é uma escolha deles. Mas foram alertados.  No entanto, se aos pais cabe escolha, na escola acho que preocupar-se com este aspecto é básico, pois temos uma diversidade em nosso público, e o que é natural para uns pode não ser para outros.


Também esta semana a escola da Laís envia atividades baseada numa série de TV cuja classificação é 16 anos. Ué, o professor não se tocou que todos na turma tem entre 11 e 13 anos? Laís não perdeu tempo: "Tá vendo, mãe, todo mundo assiste, você é a única que não deixa, meu sonho é assistir essa série…" Sim, sou a única louca. Acho que pelo menos a escola deveria preocupar-se com o conteúdo que apresenta.


Em uma Biblioteca comunitária certa vez fui ajudar a fazer a classificação dos  livros de determinada autora, pois já li todos os livros dela. Eu dei meu parecer, mas a bibliotecária chamou atenção que se fôssemos levar em conta o conteúdo sexual da obra, não faria diferença, pois naquela comunidade as adolescentes iniciam a vida sexual muito cedo. Eu me espantei mas percebi o quanto era importante esse cuidado da Biblioteca, enquanto instituição, em oferecer o livro adequado a cada faixa etária. E que conversar e conhecer esta criança ou adolescente é um passo fundamental do trabalho de mediação de leitura. É muito mais do que simplesmente emprestar livro, e sim investir de verdade na formação do leitor.


Bom, não defendo colocar os livros em caixinhas, até porque é difícil dizer o que é ou não adequado a cada criança, depende em que contexto ela está inserida, e pode gerar um "falso moralismo" que afastaria nossas crianças de ótimos livros que levantam questões importantes, que precisam ser abordadas.  No entanto, cuidado nunca é demais, tanto das instituições quanto da família. Afinal, minhas filhas não são "todo mundo" e não é qualquer coisa que serve para elas.



Na primeira foto, Ísis e Laís, filhas de Fabiana Esteves, com o autor Felipe Campos.

Na segunda foto, a contracapa do livro de Felipe Campos com a classificação indicativa de 10 anos.



 

Autoria


Fabiana Esteves é Pedagoga formada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNiRIO) e Especialista em Administração Escolar. Trabalhou como professora alfabetizadora na Prefeitura do Rio de Janeiro e no Estado do Rio com Educação de Jovens e Adultos. Trabalhou como assessora pedagógica e formadora nos cursos FAP (Formação em alfabetização Plena) e ALFALETRAR, ambos promovidos pela Secretaria de Educação do mesmo município. Também foi Orientadora de Estudos do Pacto pela Alfabetização na Idade Certa, programa de formação em parceria do município com o MEC. Em 2015 coordenou a Divisão de Leitura da SME de Duque de Caxias (RJ). Atualmente, é Orientadora Pedagógica da Prefeitura de Duque de Caxias, onde tem se dedicado à formação docente. Escritora e poeta, participou de concursos de poesia promovidos pelo SESC (1º lugar em 1995 e 3º lugar em 1999) e teve seus textos publicados em diversas antologias pela Editora Litteris. Escreve para os blogs “Mami em dose dupla” e “Proseteando”. Publicou os livros “In-verso”, "Pó de Saudade", "Maiúscula" e "A Encantadora de Barcos". É mãe das gêmeas Laís e Ísis.

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