Por Fabiana Esteves
Como escrevo sobre a maternagem desde que minhas filhas nasceram, tenho muitos registros do caminhar das duas. Relendo principalmente os que conto sobre o desenvolvimento da Ísis, consigo reconhecer o quanto a informação que temos hoje nos ajuda a sermos mais justos com ela. Achei esse relato, de quando tinham oito anos, onde esclareço o quanto era difícil para nós compreendermos a relação dela com a dor.
Esses dias quando vou dar banho na Ísis noto que a nuca está toda arranhada. Como sempre, pergunto como se machucou, mas como todas as vezes ela não sabe dizer, quem me disse foi a Laís, que relatou a brincadeira feita com a irmã: “Mãe eu penteei o cabelo dela com a escova da boneca…” Eu expliquei a Laís que a irmã precisa que a gente tome cuidado com algumas brincadeiras, pois ela não sente dor do mesmo jeito que nós. Portanto, pode se machucar e não vai reclamar. Laís achou esquisito aquele jeito diferente de lidar com a dor mas prometeu tomar mais cuidado dali em diante. Decidiu até jogar as escovas de cabelo das bonecas fora, pois não eram seguras para a irmã.
Eu lembro que, em momentos anteriores, antes do diagnóstico, eu mesma cometi o mesmo erro que a Laís, penteando o cabelo dela sem o devido cuidado. Hoje Ísis provavelmente tem a mesma relação com a dor, mas aprendeu a identificar algumas sensações e a imitar as nossas reações para evitar se machucar. As habilidades comunicativas trabalhadas com a psicóloga também fizeram diferença. Acho até que ainda tenho os jogos com figuras que ajudam a nomear os sentimentos. E lembrei do livro “O mundo começa na cabeça”, obra infantil que conta a importância do pentear e do trançar na relação entre mães e filhas africanas. As tranças traçavam não só os caminhos por onde deveriam ir, mas também construíam rotas que as levam ao mais puro afeto materno. Por aqui este cafuné passa pelo conhecimento que não só liberta, mas nos protege.
Na foto acima, Ísis e Laís, filhas de Fabiana Esteves.
Autoria
Fabiana Esteves é Pedagoga formada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNiRIO) e Especialista em Administração Escolar. Trabalhou como professora alfabetizadora na Prefeitura do Rio de Janeiro e no Estado do Rio com Educação de Jovens e Adultos. Trabalhou como assessora pedagógica e formadora nos cursos FAP (Formação em alfabetização Plena) e ALFALETRAR, ambos promovidos pela Secretaria de Educação do mesmo município. Também foi Orientadora de Estudos do Pacto pela Alfabetização na Idade Certa, programa de formação em parceria do município com o MEC. Em 2015 coordenou a Divisão de Leitura da SME de Duque de Caxias (RJ). Atualmente, é Orientadora Pedagógica da Prefeitura de Duque de Caxias, onde tem se dedicado à formação docente. Escritora e poeta, participou de concursos de poesia promovidos pelo SESC (1º lugar em 1995 e 3º lugar em 1999) e teve seus textos publicados em diversas antologias pela Editora Litteris. Escreve para os blogs “Mami em dose dupla” e “Proseteando”. Publicou os livros “In-verso”, "Pó de Saudade", "Maiúscula", "A Encantadora de Barcos", "Coisas de Sentir, de Comer e de Vestir" e "Mãe Também Engole Água Salgada". É mãe das gêmeas Laís e Ísis.
Que bela inspiração Fabiana! Texto super sensível!