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Ressaca literária e o direito de não ler

Por Fabiana Esteves



É, meus amigos, são quase dois meses em total isolamento. A gente trabalha, estuda, cozinha, lava roupa, estende, faz bolo, faz bolo, faz bolo... (o pessoal aqui é louco por bolo!)


Quem me conhece acha (e até eu mesma achei) que eu tiraria a barriga da miséria e leria todos os livros que fiquei adiando por falta de tempo, não é? Pois é, não. Tanto eu quanto minhas filhas estamos  acometidas de um mal que mais cedo ou mais tarde, ataca até os leitores mais vorazes: a temida ressaca literária.


Mas o que é a ressaca literária? Se enveredarmos pelo significado do termo "ressaca" que no dicionário quer dizer "forte movimento das ondas sobre si mesmas, resultante de mar muito agitado, quando se chocam contra obstáculos no litoral", poderíamos entender como uma agitação interna, ou, se adotássemos o significado informal da palavra, talvez  fosse o sentimento ruim depois da leitura de determinado livro. Mas ressaca literária é mesmo como um ir e vir de ondas transtornadas. Sabe quando você está diante de um catálogo imenso de filmes e não consegue decidir qual assistir? Você começa um, não se empolga, para, começa outro e nada, absolutamente nada engrena. Na direção, diria-se que o carro não atinge a velocidade para precisar da segunda marcha. Não há como chegar ao fim da estrada. 


Ísis está prosseguindo (no seu ritmo) nas aventuras de Percy Jackson. Já Laís, depois de chorar muito com "Por lugares incríveis", já tentou de tudo um pouco: os livros recomendados pela escola, o novo da Thalita Rebouças (que segundo ela neste livro resolveu deixar de ser engraçada), mas sem sucesso. Ela fica triste, parece uma pessoa sem brilho nos olhos quando não está lendo nada que aprisione sua alma. Fica pelos cantos, se arrastando… Eu como mãe, sofro. E saio oferecendo de tudo para ver se resolvo essa angústia no coração dela. No entanto, ajudo pouco, pois estou do mesmo jeito. Já comecei três e não cheguei ao fim de nenhum, ainda mais agora, trabalhando remotamente.


Na verdade a falta de tempo nunca foi uma desculpa aceitável, ainda mais para mim que acordo de madrugada para escrever, leio no ponto de ônibus, na fila do banco, em sala de espera de consultórios, até no banheiro de shopping! Eu fiquei mais ou menos dez anos sem engatar um romance. Pequenos flertes, sim, com a poesia (minha paixão eterna, que não exige sacrifício), crônica, conto, capítulos de temas da educação, reportagens, mas sem levar um romance até o fim.


Voltei em 2015, com "O garoto quase atropelado", do Vinícius Grossos. Foi como renascer. Que delícia esperar que o sinal de trânsito permanecesse mais tempo fechado a fim de retardar a chegada do ônibus ao ponto onde eu deveria saltar! Depois foram várias as leituras inebriantes que me acompanharam, mas agora… É mesmo um vai e vem inquieto que sacode a alma da gente.


Fabiana Esteves e sua filha Laís.


Hoje conversei com uma amiga e ela padece do mesmo mal nesta quarentena. É, filha, não estamos sozinhas… Esperemos que este mar volte à calmaria e traga uma história que há de vir aquecer nossos corações. Ou, quem sabe, suscitar outros sentimentos? Por enquanto estamos exercendo o primeiro direito apresentado por Daniel Pennac no seu livro "Como um romance": o direito de não ler.



 

Autoria


Fabiana Esteves é Pedagoga formada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNiRIO) e Especialista em Administração Escolar. Trabalhou como professora alfabetizadora na Prefeitura do Rio de Janeiro e no Estado do Rio com Educação de Jovens e Adultos. Trabalhou como assessora pedagógica e formadora nos cursos FAP (Formação em alfabetização Plena) e ALFALETRAR, ambos promovidos pela Secretaria de Educação do mesmo município. Também foi Orientadora de Estudos do Pacto pela Alfabetização na Idade Certa, programa de formação em parceria do município com o MEC. Em 2015 coordenou a Divisão de Leitura da SME de Duque de Caxias (RJ). Atualmente, é Orientadora Pedagógica da Prefeitura de Duque de Caxias, onde tem se dedicado à formação docente. Escritora e poeta, participou de concursos de poesia promovidos pelo SESC (1º lugar em 1995 e 3º lugar em 1999) e teve seus textos publicados em diversas antologias pela Editora Litteris. Escreve para os blogs “Mami em dose dupla” e “Proseteando”. Publicou os livros “In-verso”, "Pó de Saudade", "Maiúscula" e "A Encantadora de Barcos". É mãe das gêmeas Laís e Ísis.

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