Por Fabiana Esteves
Perdi as contas de quantas vezes Tio Claudio me contou como foi o dia em que eu nasci. Eu amava ouvir aquele relato pra lá de repetido e carregado de afeto e cuidado. Muita gente reclama de ouvir as mesmas histórias, mas eu não! Em silêncio eu dizia: “Conta de novo a história do dia em que eu nasci, conta!” Eu sabia que terminaria em abraço apertado…
A gente passa a vida toda buscando as coisas grandes, as grandes realizações, e depois percebe que só as coisas pequenas podem vestir a capa da magnitude e ocupar todos os espaços que estão vazios. Como aquela singela dedicatória que ele fez pra mim no LP do Plunct Plact Zum, quando eu era criança. A letra de forma muito bem desenhada, alinhada…
Outro dia quando ligamos a nova vitrola do meu pai e minha mãe lembrou deste disco. Quisemos lembrar de procurar para ouvir. Mas quem sabe ouvir seja só uma desculpa para olhar a capa e dedilhar a lindeza da mensagem escrita a caneta azul?
Meu livro Maiúscula tem um capítulo de poemas que dei de presente. Eu procurei o poema que escrevi para ele. Mas não achei a cópia, são muitos os papéis… Talvez este presente não necessite ser publicado para se eternizar. Por que tudo que construímos como padrinho e afilhada, como tio e sobrinha, como amigo e amiga, estão presentes dentro de mim. O papel é apenas um detalhe. E ele preferia mil vezes falar a escrever.
Depois da sua partida para o eterno, encontrei seu irmão numa comemoração. Como eles são muito parecidos, caí num choro incontrolável. O abraço foi consequência. Eu fechei os olhos para mergulhar fundo naquela saudade. Seu irmão ofereceu o abraço para ser ponte. Eu me derramei:
"Um abraço
pode ser a ponte
Que te leva
Para o outro lado (...)
Do outro lado
Não se desligam os aparelhos
Não há comprimidos sem efeito
Não há cortes cirúrgicos
Não há febres dores calafrios
Não há desfibriladores
Cânticos finais ou fogo
Do outro lado
Há uma ponte (...)
Que me leva longe
Para dentro de um abraço"
Nas fotos acima, Fabiana Esteves e seu tio Claudio.
Autoria
Fabiana Esteves é Pedagoga formada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNiRIO) e Especialista em Administração Escolar. Trabalhou como professora alfabetizadora na Prefeitura do Rio de Janeiro e no Estado do Rio com Educação de Jovens e Adultos. Trabalhou como assessora pedagógica e formadora nos cursos FAP (Formação em alfabetização Plena) e ALFALETRAR, ambos promovidos pela Secretaria de Educação do mesmo município. Também foi Orientadora de Estudos do Pacto pela Alfabetização na Idade Certa, programa de formação em parceria do município com o MEC. Em 2015 coordenou a Divisão de Leitura da SME de Duque de Caxias (RJ). Atualmente, é Orientadora Pedagógica da Prefeitura de Duque de Caxias, onde tem se dedicado à formação docente. Escritora e poeta, participou de concursos de poesia promovidos pelo SESC (1º lugar em 1995 e 3º lugar em 1999) e teve seus textos publicados em diversas antologias pela Editora Litteris. Escreve para os blogs “Mami em dose dupla” e “Proseteando”. Publicou os livros “In-verso”, "Pó de Saudade", "Maiúscula" e "A Encantadora de Barcos". É mãe das gêmeas Laís e Ísis.
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