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As opiniões aqui emitidas não refletem o pensamento da Editora.

Pérolas Negras

Por Fabiana Esteves



A escola da Laís fez uma live literária e eu comprei o livro em seguida, que chegou esta semana. A gente já tinha assistido à peça e não gostamos. Ao contrário de todo mundo que estava lá, achamos a linguagem pouco criativa e didática demais às vezes. Não conseguimos nos envolver. No entanto, quem sabe o livro poderia ser melhor? Foi escrito depois, as ilustrações são bonitas… Ela me pediu para ler em voz alta (Ah, os tempos delas pequenininhas, que saudade, nosso momento mágico do dia era esse, da leitura em voz alta! Que saudade de quando elas precisavam da minha voz para conhecer a literatura do mundo, meu Deus!) Poucas páginas e Laís me pede para parar. "Ah, mãe, não dá, é muito ruim". Pois é, ruim.


Quando saímos da peça nem ela nem eu tivemos coragem de externar o que realmente achamos do espetáculo. Estavam todos encantados! "Que peça maravilhosa, né, Fabiana?" Meu silêncio se perdeu na confusão de pessoas querendo tirar foto e comprar produtos caríssimos com o tema. O silêncio da Laís também. Ísis chorou que queria o boneco do personagem. Sem chance. O preço era realmente absurdo. Era proibido não querer, era proibido não gostar. Como a história era de temática negra, não manifestamos nosso desgosto temendo o rótulo de racistas. Ao ler o livro, a mesma sensação.


Lembrei de outro livro infantil que eu li na escola, de autor muito festejado, que também odiei. Também tratando da negritude. E fiquei pensando: Será que um livro se torna excelente apenas por trazer um tema relevante? Apenas por apresentar personagens negros? Não, literatura é mais que isso. E me lembrei dos autores do nosso Coletivo, de pouca visibilidade, mas de texto impecável. E meu olhar se entristeceu por me dar conta de que poucas crianças teriam acesso às belezas da Literatura Infantil que brota da Baixada Fluminense. Prometi à Laís uma leitura mais bela para o dia seguinte, uma vez que ela já fechava os olhos sonolentos; e lamentei o dinheiro que gastei no tal livro.


Planejo para amanhã um mergulho nas Vozes Negras da Baixada que ostentam não só a relevância dos temas, mas o encanto da boa literatura. Você que me lê, mergulhe o olhar, vá além dos anúncios do Google, do marketing das grandes editoras e faça uma pesquisa que te mostre novos autores, dê uma chance longe das postagens patrocinadas… Você pode encontrar as mais belas pérolas. Elas são raras e escondem-se no fundo dos oceanos.



Nas fotos acima, autores da Baixada Fluminense e Periferia do Rio de Janeiro.



 

Autoria



Fabiana Esteves é Pedagoga formada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNiRIO) e Especialista em Administração Escolar. Trabalhou como professora alfabetizadora na Prefeitura do Rio de Janeiro e no Estado do Rio com Educação de Jovens e Adultos. Trabalhou como assessora pedagógica e formadora nos cursos FAP (Formação em alfabetização Plena) e ALFALETRAR, ambos promovidos pela Secretaria de Educação do mesmo município. Também foi Orientadora de Estudos do Pacto pela Alfabetização na Idade Certa, programa de formação em parceria do município com o MEC. Em 2015 coordenou a Divisão de Leitura da SME de Duque de Caxias (RJ). Atualmente, é Orientadora Pedagógica da Prefeitura de Duque de Caxias, onde tem se dedicado à formação docente. Escritora e poeta, participou de concursos de poesia promovidos pelo SESC (1º lugar em 1995 e 3º lugar em 1999) e teve seus textos publicados em diversas antologias pela Editora Litteris. Escreve para os blogs “Mami em dose dupla” e “Proseteando”. Publicou os livros “In-verso”, "Pó de Saudade", "Maiúscula" e "A Encantadora de Barcos". É mãe das gêmeas Laís e Ísis.

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