Por Gilson Salomão Pessôa
Os Túnicas Azuis, série de quadrinhos que mostra uma visão bem-humorada da Guerra da Secessão Americana (conflito travado entre 1861 e 1865 que opôs o Norte ao Sul do país) ainda é desconhecida por muitos no Brasil.
Ela acompanha soldados da cavalaria dos Estados Unidos, na segunda metade do século XIX, atuando principalmente no velho Oeste, alojados em fortes, quase sempre envolvidos em batalhas contra índios peles-vermelhas e lutando contra os soldados confederados sulistas.
São seus personagens principais o sargento Cornelius Chesterfield e o cabo Blutch. E personagens coadjuvantes os cavaleiros-soldados Tripps e Bryan; o comandante General Alexander; e, às vezes, o batedor índio Pena Prateada, o capitão Stark e outros. O sargento é um militar simplório, mas orgulhoso de sua farda, enquanto o cabo é sarcástico e geralmente está louco para desertar.
Eles foram criados em 1969 na Bélgica por Raoul Cauvin (texto) e Louis Salvérius (desenho), para ocupar o espaço de sátira ao faroeste deixado pela saída de Lucky Luke da revista Spirou e da editora Dupuis.
Apesar do traço cartunesco, as histórias sempre trazem referências históricas de elementos que realmente existiram durante esse período. Além de engraçada, faz o leitor dar de cara com personagens reais, como o Presidente Lincoln e o General Lee.
Antes de iniciar a sua carreira militar, Chesterfield trabalhava como aprendiz num açougue, fugindo dos olhares sedutores da filha do patrão, uma senhora pouco feminina que já tinha passado a idade usual para se casar. Entre o espírito protetor da mãe (que vê nos favores da jovem, filha do dono do açougue, um futuro promissor) e as histórias de coragem militar contadas pelo pai que se encontra numa cadeira de rodas, Chesterfield sonha secretamente com a farda, mas não ousa demonstrar esse desejo à mãe.
Por sua vez, Blutch tem uma taberna e está contente com esta vida, não aspirando a qualquer outra profissão. Conhece o caso de indecisão de Chesterfield e, após uns quantos copos, uns militares que se encontravam de passagem percebem que esta é uma oportunidade de ouro para captar dois novos recrutas. Essa história é contada na revista “A recruta dos Azuis”.
As histórias satirizam o pensamento unilateral do exército, que nem sempre toma as decisões mais acertadas e não pensa duas vezes em colocar os seus próprios soldados em risco, o que gera vários diálogos e conflitos interessantes, já que o sargento é a determinação em obedecer cegamente os seus superiores, enquanto o cabo está mais preocupado em salvar a própria vida em meio àquele conflito. Apesar das diferenças, a dupla acaba ficando bastante unida ao longo das aventuras e um sempre salva o outro quando está em perigo. Essas falhas humanas fazem com que nos identifiquemos com as suas decisões, apesar da conjuntura histórica que de certa forma os define.
Autoria
Gilson Salomão Pessôa é jornalista formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora, com Pós Graduação em Globalização, Mídia e Cidadania pela mesma faculdade. Publicou os livros "Histórias de Titãs Quebradiços" e "Um Suspiro Resgatado".
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