Por Fabiana Esteves
Sempre segui e gostei muito dos Direitos do Leitor, de Daniel Pennac. Para mim, não respeitá-los pode afastar definitivamente alguém dos livros, principalmente os jovens e as crianças. Acho que a escola e a família não se preocupam muito com eles, e sendo estas duas instituições as responsáveis mais diretas pela formação do leitor, não me admira que sejamos um país que lê pouco.
Um dos direitos que me é mais caro é o direito de não terminar um livro, o direito de abandonar. Nada pior do que continuar lendo algo que está odiando ou achando chato. E como exercer este direito se semana que vem você vai fazer uma prova do tal livro que não consegue terminar? Bom, eu tenho inúmeras histórias relacionadas a este tema, principalmente nos anos finais do Ensino Fundamental (antigo ginásio) e no Ensino Médio (antigo científico). Nos primeiros anos de escola era tudo muito leve, divertido, e a leitura fazia parte das atividades, era o que eu mais gostava. Mas cresci e os meus interesses mudaram. Eu era uma adolescente birrenta no quesito leitura (acho que sou até hoje) e se eu não estivesse a fim, nada nem ninguém me obrigaria a ler um livro só para fazer um trabalho ou um teste. Cheguei a tirar 10 na prova de um livro que não li até hoje, nem cheguei a abrir. A colega me contou a história e eu desenvolvi a ideia toda na hora da avaliação. Nota máxima. Talvez eu até gostasse desse livro, mas não deu. Alguns desses livros que fui obrigada a ler consegui resgatar, como os Contos de Aprendiz, do Carlos Drummond. E com outros me deliciei, como Dom Casmurro, aos treze anos. Outros não, como a Hora da Estrela, de Clarice Lispector, que pasmem, é uma das minhas autoras preferidas. Mas esse livro não desce. Talvez tudo fosse diferente se não tivessem me obrigado a ler. Não era o momento.
Tento exercer este direito aqui em casa, com as meninas. Não quer continuar, eu não obrigo. Mas a Laís tem um jeito estranho de abandonar, ela larga o livro bem perto do fim. "Ué, Laís, só falta esse pouquinho pra terminar e você vai desistir?" "Ah, mãe, o personagem é muito idiota, eu tô com raiva dele, ele não podia ter feito isso!" Eu não entendo, mas respeito. "Ah, mãe, sem querer eu passei pela última página e li o final, e com spoiler não dá!" Eu também não entendo, mas respeito. Quando ela se encanta, devora quinhentas páginas em poucos dias. Comigo o abandonar é diferente, se eu não gosto eu nem passo do primeiro capítulo. Seja por não conseguir me envolver ou por medo, sou sensível, histórias assustadoras ou violentas demais são um problema… Já a Ísis abandona pela dificuldade mesmo, ler sozinha ainda é um desafio muito grande. Prefere que alguém leia para ela. Amou Luna Clara e Apolo Onze, da Adriana Falcão. Ela ria muito, li as trezentas e poucas páginas com sotaque nordestino.
Fabiana Esteves e suas filhas Ísis e Laís
Direito respeitado, percebi que cada um tem seu jeito de abandonar. Cada um tem seus motivos para deixar um livro pela metade, perto do fim ou simplesmente nem começar.
Autoria
Fabiana Esteves é Pedagoga formada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNiRIO) e Especialista em Administração Escolar. Trabalhou como professora alfabetizadora na Prefeitura do Rio de Janeiro e no Estado do Rio com Educação de Jovens e Adultos. Trabalhou como assessora pedagógica e formadora nos cursos FAP (Formação em alfabetização Plena) e ALFALETRAR, ambos promovidos pela Secretaria de Educação do mesmo município. Também foi Orientadora de Estudos do Pacto pela Alfabetização na Idade Certa, programa de formação em parceria do município com o MEC. Em 2015 coordenou a Divisão de Leitura da SME de Duque de Caxias (RJ). Atualmente, é Orientadora Pedagógica da Prefeitura de Duque de Caxias, onde tem se dedicado à formação docente. Escritora e poeta, participou de concursos de poesia promovidos pelo SESC (1º lugar em 1995 e 3º lugar em 1999) e teve seus textos publicados em diversas antologias pela Editora Litteris. Escreve para os blogs “Mami em dose dupla” e “Proseteando”. Publicou os livros “In-verso”, "Pó de Saudade", "Maiúscula" e "A Encantadora de Barcos". É mãe das gêmeas Laís e Ísis.
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