Por Gilson Salomão Pessôa
O Blues é um ritmo musical que evoca um tipo especial de melancolia, como um abraço agridoce na dor que aperta o coração. Nascida no peito dos negros americanos, descendentes de escravos no século XIX, o estilo permanece até os dias atuais seduzindo gerações e fazendo escola. Ao longo dos anos, grandes intérpretes fizeram história, imortalizando canções.
O quadrinista Robert Crumb é um grande admirador do gênero em questão e chegou inclusive a montar uma banda: Robert Crumb and his Cheap Suit Serenaders. Passou duas décadas investigando suas origens e o perfil dos seus músicos mais destacados. O resultado é uma coletânea de quadrinhos e ilustrações de capas de vinil que ele desenhou, entre os anos 60 e 80, intitulada Blues.
O traço bastante característico do autor se adequa com perfeição à essência das histórias narradas, que envolvem tristeza, violência e muita bebedeira. Contando as trajetórias de grandes lendas como Jelly Roll Morton, Charley Patton, Robert Johnson e vários outros, ele homenageia esses anjos tortos que perambulavam espalhando sua poesia e indo de encontro às convenções sociais da época.
O autor faz ainda alusão ao misticismo envolvendo alguns de seus artistas, que teriam feito um pacto com o demônio para obterem sucesso em suas carreiras, enquanto outros teriam supostamente sido vítimas de magia vodu.
Uma merecida homenagem a um riquíssimo estilo musical enquanto critica a música pop moderna, apontada pelo autor como vazia, comercial e completamente submissa às gravadoras que fazem tudo em função do lucro. A nostalgia de uma era que conseguia transformar suas piores provações nas mais belas melodias, realçando a sublimação do espírito humano apesar dos desalentos.
Autoria
Gilson Salomão Pessôa é jornalista formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora, com Pós Graduação em Globalização, Mídia e Cidadania pela mesma faculdade. Publicou os livros "Histórias de Titãs Quebradiços" e "Um Suspiro Resgatado".
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