Por Gilson Salomão Pessôa
O escritor William Feather afirmou certa vez que “a filosofia por trás de muita propaganda é baseada na velha observação de que todo homem é na realidade dois homens — o homem que ele é e o homem que ele quer ser.” A humanidade vem sendo constantemente motivada a comprar produtos que representam seus desejos e ansiedades de realização emocional/psicológica, guiada pelas sereias da publicidade que desejam apenas aliviar sutilmente o peso de suas carteiras.
A série criada por Matthew Weiner e exibida no canal AMC e na HBO acompanha o cotidiano da agitada Sterling Cooper, uma grande agência de publicidade da Madison Avenue em Nova York na década de 60. O nome “Mad Men” faz referência ao apelido dos publicitários que trabalhavam naquela rua durante este período.
Um dos personagens centrais da trama é Don Draper, o diretor de criação. Dono de uma retórica imbatível e vencedor de inúmeros prêmios, ele é o grande trunfo da instituição, mas esconde um segredo em seu passado que pode destruir sua carreira e seu casamento. Pai de família dedicado que possui praticamente tudo o que deseja, mas nunca se sente completamente feliz ou realizado.
As histórias são narradas de forma bastante sutil e os episódios são quase independentes entre si, enfocando diferentes personagens e suas vidas dentro e forma do ambiente de trabalho. A prioridade da série é trabalhar o complexo perfil dos funcionários da firma e daqueles que os rodeiam.
Desta forma, a interação entre os mesmos termina sendo o grande destaque, pois é quando vislumbramos as variadas “camadas” que cada um deles gradativamente revela. Temos por exemplo o jovem e ambicioso Pete Campbell está sempre comparando posições dentro da empresa e mantém seu emprego especialmente por causa do elevado status de sua família, mas vez ou outra surpreende com uma ideia inovadora.
Enquanto isso, Roger Sterling, sócio fundador, não está muito interessado em trabalhar e permanece no cargo porque conseguiu a conta da marca de cigarros Lucky Strike, que financia grande parte da empresa. O embate entre os dois sempre rendeu bons momentos ao longo das temporadas.
O escritório acaba por se transformar em um dos personagens da história, pois é nele que pulsam todas as intrigas, fofocas e discussões. Local onde as idéias brotam e somem na velocidade de um relâmpago. Ambiente onde os homens dão as cartas e as mulheres seguem ordens, até que algumas coisas começam a mudar, especialmente com a chegada da determinada e criativa Peggy Olsen.
O contexto histórico permite que sejam tratados temas como racismo, feminismo e homofobia, enquanto comenta sutilmente fatos que marcaram a história americana como a crise dos mísseis de Cuba, a morte de JFK, a geração beat e a enigmática morte de Marilyn Monroe, que causou uma comoção em massa em grande parte do público feminino.
Vencedora de vários Emmys e Globos de Ouro, a série atualmente caminha para sua sexta temporada, que terá início no mês que vem. Uma charmosa, inteligente, algumas vezes distorcida e refinada leitura do “sonho americano” que seduz trazendo promessas para o futuro ou fazendo referência a doces lembranças do passado. Nada é descartado quando o assunto é vender.
Autoria
Gilson Salomão Pessôa é jornalista formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora, com Pós Graduação em Globalização, Mídia e Cidadania pela mesma faculdade. Publicou os livros "Histórias de Titãs Quebradiços" e "Um Suspiro Resgatado".
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