top of page
Para receber novidades, inscreva-se:

Obrigado pelo contato!

Este é um blog de participação espontânea e colaborativa.

As opiniões aqui emitidas não refletem o pensamento da Editora.

Ensaio Sobre a Cegueira

Por Gilson Salomão Pessôa


A natureza egoísta e mesquinha do ser humano tem se acentuado na presente conjuntura social, revelada no instinto narcisista e possessivo de nosso comportamento. O confinamento provoca uma socialização forçada, onde somos forçados a mostrar a verdadeira essência que nos define.


Baseada no romance do escritor português José Saramago, a seguinte projeção trata de uma epidemia inexplicável que causa um tipo diferente de cegueira, onde a vítima enxerga tudo branco. A fim de evitar a contaminação, os enfermos são postos em quarentena dentro de uma estrutura, onde será gradativamente instaurada uma tirania de uma “ala” sobre as demais, embora a solidariedade fosse a alternativa mais viável dentro desse contexto. Assim como no clássico “O Anjo Exterminador” do diretor espanhol Luís Buñuel, o “aprisionamento” num mesmo local provoca a liberação dos impulsos mais viscerais, criando uma atmosfera tensa e pautada na total ausência de ordem.


Os personagens são anônimos para enfocar a leitura existencial da história. A montagem do cineasta Fernando Meirelles ilustra de forma interessante a percepção dos cegos diante desta nova condição e como a sua interação com a realidade foi alterada.


A esposa do oftalmologista, única personagem imune a esta enfermidade, passa a observar melhor a fragilidade do espírito humano e procura ajudar da melhor maneira possível, mesmo que este lhe traga esgotamento emocional e físico. A doença também cria um distanciamento do marido que nunca se sentiu tão vulnerável e inútil.


A película, assim como a genial obra literária, mostra as duas faces díspares que constituem nosso caráter e como cada uma delas se sobressai dentro de uma situação limite.


Um painel que expõe o que há de mais perverso e fraternal em nossa índole. Os sentidos aguçados pela falta da visão permitiram uma melhor compreensão dos pequenos milagres da natureza presentes no cotidiano, constantemente ignorados em função de um pragmatismo funcionalista.


O elenco traz as excelentes performances de Julianne Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga, Danny Glover e Gael García Bernal, entre outros.


Do desespero derivam atos marcados de irracionalidade que deixam ainda mais tênue a linha que diferencia o homem dos outros animais. O poder oriundo da vulnerabilidade de terceiros transforma seus detentores, deformando seu caráter.


O filme mostra de forma pungente uma sociedade deixada à deriva em função da privação de um sentido, transformando os cidadãos outrora civilizados em pessoas descontroladas que agem de forma violenta e bestial.


Uma metáfora interessante sobre a necessidade de perder a visão para melhor enxergar a perspectiva de nossa existência e seu sentido neste planeta. Um convite para a reflexão sobre o perigo de perder nossa bússola moral, mergulhando a humanidade no caos do desespero e da incerteza.





 

Autoria


Gilson Salomão Pessôa é jornalista formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora, com Pós Graduação em Globalização, Mídia e Cidadania pela mesma faculdade. Publicou os livros "Histórias de Titãs Quebradiços" e "Um Suspiro Resgatado".





Deixe seu comentário

Posts recentes

logo-panoplia.png
bottom of page