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Cartas e poemas para falar da morte

Por Fabiana Esteves



Querida filha, Os tempos sombrios se achegam e traz a urgência em falar da morte. Muitos tentaram explicar o que a gente sente quando sabe que nunca mais vai encontrar uma pessoa novamente nesta Terra. Muitos autores tentaram descrever esta sensação e encontraram na língua portuguesa a mais nobre palavra para expressar o que sentimos quando a falta de alguém arde no nosso peito.


Saudade: palavra que só existe em português. Saudade: é simplesmente sentir falta? Não. Diante da morte, antes de sentirmos apenas saudade existe uma ferida aberta que precisa cicatrizar.


Hoje perdemos alguém muito importante e é preciso chorar. Viver este luto. Ele existe. Você me perguntou como seria ir à missa sabendo que ela não estará mais lá. Esta pergunta eu não sei responder. Esta mesma pergunta também aflige o meu coração. Mas as nossas maneiras de fazer a ferida se curar podem ser as mesmas que tia Iara usava para tornar o nosso domingo tão especial: os abraços, as lembranças...


Quando você era menor, sua fascinação pelo céu a aproximava ainda mais da ideia de que as pessoas viravam estrelinhas. Lembra? Era só escurecer e você corria para a janela a fim de procurar a bisa. Haveria de estar mais perto ou mais longe da Lua? Os poetas e as mães dizem que as pessoas que morrem viram estrelas.


A fé diz que as almas vão todas para o céu. Agora o teu conhecimento de astronomia te faz menos crédula em nossas histórias e doutrinas? Acredito que não. Agora tens o dom de transformar em poesia essa carne viva que precisa criar casca.


Os médicos atestam e relatam em seus prontuários e certidões que não há mais vida. Você me pediu para vê-la pela última vez. Precisei negar. Profissionais revestidos de seus equipamentos de proteção se encarregam de levar quem amamos para um buraco na terra. Sem despedidas. Mas será que não há mesmo mais vida? Os nossos abraços ainda pulsam, e, se fecharmos os olhos, podemos sentir, viver de novo o que todos os domingos teimava alegre em se repetir...


Ísis, filha de Fabiana Esteves.



Há vida! E ela se repete assim, filha, vestida com a capa da memória.




 

Autoria


Fabiana Esteves é Pedagoga formada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNiRIO) e Especialista em Administração Escolar. Trabalhou como professora alfabetizadora na Prefeitura do Rio de Janeiro e no Estado do Rio com Educação de Jovens e Adultos. Trabalhou como assessora pedagógica e formadora nos cursos FAP (Formação em alfabetização Plena) e ALFALETRAR, ambos promovidos pela Secretaria de Educação do mesmo município. Também foi Orientadora de Estudos do Pacto pela Alfabetização na Idade Certa, programa de formação em parceria do município com o MEC. Em 2015 coordenou a Divisão de Leitura da SME de Duque de Caxias (RJ). Atualmente, é Orientadora Pedagógica da Prefeitura de Duque de Caxias, onde tem se dedicado à formação docente. Escritora e poeta, participou de concursos de poesia promovidos pelo SESC (1º lugar em 1995 e 3º lugar em 1999) e teve seus textos publicados em diversas antologias pela Editora Litteris. Escreve para os blogs “Mami em dose dupla” e “Proseteando”. Publicou os livros “In-verso”, "Pó de Saudade", "Maiúscula" e "A Encantadora de Barcos". É mãe das gêmeas Laís e Ísis.

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