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Basta ler muito para escrever bem?

Por Fabiana Esteves


As duas estão escrevendo muito bem, querem seguir meus passos, mas ainda relutam muito em mostrar publicamente suas criações. Estão muito focadas  no que os outros vão pensar.


Ísis, que antes nunca se preocupava com a forma do texto, deu para se desesperar só de pensar que alguém possa questionar sua escrita. Às vezes até desiste, mesmo que a ideia seja boa. O recurso de fala para texto, o corretor ortográfico do celular e um aplicativo que ela usa para criar histórias em quadrinhos com animes ajudaram bastante. Até bem pouco tempo atrás não se falava em revisar texto na escola. A escrita era sempre de primeira: escrevia-se, entregava-se para a professora e pronto. Esperava-se a nota.


Apesar de escrever bem eu nunca consegui decorar nenhuma regra de ortografia.  Em gramática também sempre fui um fracasso. Hoje em dia eu sou autora, já ganhei concursos, publiquei livros. Sempre quis ser escritora, desde  os 8 anos de idade. No entanto,  jamais me passou pela cabeça entrar numa Faculdade de Letras, justamente porque eu tinha (e tenho ainda)  pavor dessas normas. Na escrita simplesmente eu leio o texto, vejo o que fica bom, o que não me soa bem aos ouvidos e vou modificando com base em todas as leituras que já fiz na vida, que são muitas. 


Quando adolescente, eu lia uma média de um a dois livros volumosos por dia. Na minha cabeça bastava ler muito para escrever bem. Eu tenho o hábito de revisar meus textos, mas nunca lidei bem com o olhar crítico alheio. Só uma pessoa aceito que revise meus textos. Tenho com ela uma relação muito próxima e respeitosa. Fora ela, ninguém. 


Em 1996 fiz uma oficina de poesia. Fui um fiasco, até hoje não entendo nada de métrica (apesar das inúmeras explicações da professora) e fiquei indignada quando ela me disse que eu abusava dos pronomes. Foi cortando todos de um poema que eu tinha escrito sobre um cachorro. No meu entendimento, ela mutilou o meu texto. O meu cachorro ficou sem uma das patas. Esta intervenção me marcou para sempre. Até hoje tenho mania de pronomes, mas ao terminar de escrever saio à caça deles, farejando os excessos.


Outro toque dela foi em relação à pontuação, me pedia para decidir se pontuaria ou não um poema. Eu teimava e queria pontuar alguns versos e outros não. Meu complexo de inferioridade se resumia às relações com as pessoas. Na literatura eu me achava o máximo,  já tinha conquistado um troféu, quem era ela para me questionar? Até hoje tenho receio de intervir em textos literários de meus alunos ou de qualquer pessoa. Texto informativo, acadêmico,  reescrita, resumo, tudo bem.  Mas corrigir criação literária de outrem me incomoda demais. É dele, veio de dentro, custou suor e lágrimas.


Insisto para que minhas filhas mostrem seus dotes literários, mas o medo ainda passa na frente. Estamos evoluindo. Laís já aceitou pelo menos digitar uma história linda que escreveu e Ísis já fez duas ou três leituras públicas de poemas autorais. 


Sigo com esta inquietação: até que ponto estas intervenções no texto da criança são positivas? Imaginei-me recebendo um bilhete com críticas do professor sobre meu texto literário… Eu ficaria louca de raiva! Já tive alguns alunos que desanimavam diante de correções como essas, choravam e não escreviam mais nada... No que se trata de  gramática e ortografia, ainda tenho muito o que aprender. Agora que a ortografia mudou, fico ainda mais perdida. Ainda bem que todo escritor tem direito a um revisor. Um outro olhar afetuoso ao qual ele possa confiar seu "filho".  No entanto, percebo que o conteúdo ganhou status de protagonista, evoluímos neste ponto.


Ísis e Laís, filhas de Fabiana Esteves.



O texto é muito mais do que forma, muito mais do que um corpinho bonito. Vale o que tem dentro.  É alma, é coração!  E o momento é perfeito para abrir o coração... e as gavetas!




 

Autoria

Fabiana Esteves é Pedagoga formada pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNiRIO) e Especialista em Administração Escolar. Trabalhou como professora alfabetizadora na Prefeitura do Rio de Janeiro e no Estado do Rio com Educação de Jovens e Adultos. Trabalhou como assessora pedagógica e formadora nos cursos FAP (Formação em alfabetização Plena) e ALFALETRAR, ambos promovidos pela Secretaria de Educação do mesmo município. Também foi Orientadora de Estudos do Pacto pela Alfabetização na Idade Certa, programa de formação em parceria do município com o MEC. Em 2015 coordenou a Divisão de Leitura da SME de Duque de Caxias (RJ). Atualmente, é Orientadora Pedagógica da Prefeitura de Duque de Caxias, onde tem se dedicado à formação docente. Escritora e poeta, participou de concursos de poesia promovidos pelo SESC (1º lugar em 1995 e 3º lugar em 1999) e teve seus textos publicados em diversas antologias pela Editora Litteris. Escreve para os blogs “Mami em dose dupla” e “Proseteando”. Publicou os livros “In-verso”, "Pó de Saudade", "Maiúscula" e "A Encantadora de Barcos". É mãe das gêmeas Laís e Ísis.


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