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Annie Hall


Por Gilson Salomão Pessôa



A complexidade das relações humanas, especialmente as amorosas é um mistério constantemente renovado e que dificilmente é decifrado.No caso da seguinte película, o diretor Woody Allen chegou a uma teoria interessante.


Narrando a trajetória do romance entre Alvy Singer e Annie Hall, desde o primeiro encontro na varanda da casa dela (a sequência em que os pensamentos inconscientes são revelados é um dos pontos altos da projeção) até seu término, por razões variadas, dentre elas o esgotamento emocional, as etapas da convivência do casal vão sendo gradualmente expostas até o derradeiro fim, com todas implicações e dúvidas que tem direito.


A montagem é um dos grandes destaques do filme, onde os protagonistas “trafegam” por momentos do passado e comentam suas atitudes naquela época, chegando mesmo a interagir com os envolvidos no incidente, gerando cenas hilárias. É legal notar também que o personagem principal está quase sempre conversando com a câmera, estabelecendo um laço de intimidade e cumplicidade com o expectador, o que acaba mascarando seus defeitos em alguns casos, já que enxergamos os fatos através do seu ponto de vista.


Alvy é um típico personagem do diretor Woody Allen: neurótico, obsessivo, meticuloso e que sente necessidade de controlar a relação, o que pode ser percebido pelo fato de ele “forçar” sua namorada a ler determinados livros,fazer determinados cursos e até fazer análise. Está sempre buscando racionalizar tudo e quase sempre enxerga as pessoas através de estereótipos, o que reforça sua necessidade de criar uma “zona de conforto” ao seu redor.


Allen faz praticamente uma sessão de análise, fazendo leituras de memórias de infância de Alvy, seu relacionamento com carreira, família e mulheres, tentando entender o comportamento do sofrido comediante.


É curioso notar o contraponto entre o protagonista e seu amigo Max, um ator que reflete a mentalidade da costa oeste americana: desencanado e mulherengo, vive dizendo que a solução de tudo está na Califórnia.


Neste ponto ressalto a crítica do cineasta à Hollywood e todo seu perímetro, mostrando as festas, o alto consumo de drogas, sexo com menores de idade, além do cretino processo de edição dos programas de TV, onde gargalhadas e palmas são inseridas mecanicamente.


A acidez de Allen também se estende à elite pseudo-intelectual de Nova York (assim como Charlie Kaufman), mostrando os mesmos como pedantes e emocionalmente distantes, mais preocupados em debater temas (e se sentindo o máximo quanto a isso!) do que apreciar os prazeres simples da vida. 


Annie Hall é uma companheira interessante para Alvy, já que ela simboliza tudo o que ele não é: aberta à novas experiências, sempre carinhosa e educada, trabalha como atriz, fotógrafa e seu grande sonho é tornar-se uma cantora famosa.


Um faz bem ao outro, pois ele a impulsiona a correr atrás de seu sonho enquanto ela faz com que ele relaxe e passe a aproveitar melhor os momentos, percebendo e fruindo os pequenos detalhes que são tão importantes numa relação amorosa.


O monólogo final resume nosso sentimento em relação a essa busca pela outra pessoa que nos complete: é um caminho louco, distorcido e quase sempre sofrido, mas não conseguimos imaginar nossa vida sem ele.




 

Autoria


Gilson Salomão Pessôa é jornalista formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora, com Pós Graduação em Globalização, Mídia e Cidadania pela mesma faculdade. Publicou os livros "Histórias de Titãs Quebradiços" e "Um Suspiro Resgatado".

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