Por Gilson Salomão Pessôa
O escritor russo Leon Tolstoi afirmava que “não alcançamos a liberdade buscando a liberdade, mas sim a verdade. A liberdade não é um fim, mas uma consequência.” A ideia de libertação parte de um conceito bem mais amplo, com diversas ramificações. Antes de qualquer coisa é preciso ser livre no pensamento.
Em grande parte das sociedades escravagistas houve rebeliões e grandes líderes que organizaram os escravos para lutarem contra o sistema que os oprimia. Durante o império romano Spartacus foi o nome que certamente mais se destacou nesse sentido. Sua história já foi tema de inúmeras adaptações para TV e cinema.
A versão mais recente produzida pelo canal Starz toma algumas liberdades em relação à história original, embora mantenha a sua essência. Ela mostra um trácio que é recrutado para servir no exército romano e após desobedecer ao seu superior Caius Glaber para defender sua vila desprotegida de uma invasão de bárbaros, é capturado e levado como escravo enquanto sua esposa Sura é separada dele e vendida a mercadores sírios.
Condenado à morte no circo para a diversão do povo ele surpreende a todos quando mata quatro gladiadores, impressionando o lanista Batiatus. Depois de comprado pelo mesmo, é levado para o seu Ludus, local onde os guerreiros viviam e eram treinados para lutar até a morte nas arenas.
Lá ele é batizado de Spartacus, embora esse não seja o seu nome, e seu crescente número de vitórias acaba despertando a ira de Glaber e Crixus, um gladiador gaulês da mesma casa que até então era a sensação local.
A série mostra o protagonista em fases bastante distintas, ascendendo como guerreiro, tentando encontrar sua esposa, se vingando do romano que o colocou nessa situação e gradativamente tornando-se líder de uma rebelião de escravos que abalou consideravelmente o império romano.
Depois da morte do ator que interpretava Spartacus na primeira temporada, os produtores tiveram a ideia de fazer um prólogo intitulado “Deuses da Arena” que mostrou a cidade de Cápua antes da chegada do trácio, a ascensão de Batiatus e a história do lutador Gannicus, que terá uma relativa importância no decorrer da história.
O roteiro é eficiente ao retratar as diferentes motivações dos personagens envolvidos na trama, evitando desta forma uma visão maniqueista da obra. A distinção entre vilões e heróis está distinta, mas é possível compreender os comportamentos diferenciados. Cada um deles está buscando defender os seus próprios interesses e é capaz de usar quem estiver no caminho para alcançá-los.
O jogo de intrigas e favores manipulado por Lucretia e Batiatus espelha a putrefação da sociedade romana e seu iminente declínio. Adotando a mesma estética que o diretor Zack Snyder no filme 300, as lutas são elegantemente mostradas com enorme quantidade de detalhes, ocasionalmente em câmera lenta inserindo assim uma linguagem que não é original, mas funciona muito bem.
A substituição de atores não prejudicou a essência do personagem, um homem que a princípio não calculava a influência que o seu comportamento teria dentro daquele contexto histórico, mas depois que percebeu a força de sua voz ele não parou até ser ouvido por todo o império romano.
A série completa está disponível na Netflix.
Autoria
Gilson Salomão Pessôa é jornalista formado em Comunicação Social pela Universidade Federal de Juiz de Fora, com Pós Graduação em Globalização, Mídia e Cidadania pela mesma faculdade. Publicou os livros "Histórias de Titãs Quebradiços" e "Um Suspiro Resgatado".
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